Dra. Lívia Victor

Cirrose significa que um tecido cicatricial, que se forma em decorrência de uma inflamação crônica, substituiu gradualmente as células saudáveis do fígado, conhecidas como hepatócitos. Esses danos são sequelas e portanto não são reversíveis. Mas detectá-los precocemente e estabelecer a causa pode possibilitar um tratamento específico que consiga controlar a inflamação e impedir que a doença progrida para estágios mais avançados.

O fígado é um órgão que se encontra na parte superior direita do abdômen e tem funções vitais. Ele elimina toxinas do sangue, produz enzimas que ajudam a digerir os alimentos, armazena açúcar e nutrientes, produz agentes que participam da coagulação e ajuda a combater infecções.

Sempre que o fígado está inflamado, o organismo age no sentido de resolver essa inflamação criando cicatrizes. O nome científico dessas cicatrizes é fibrose. O acúmulo de muita fibrose define a cirrose e pode prejudicar a função do fígado. Temos assim, o quadro de insuficiência hepática crônica.

Qual é o médico especialista em cirrose?

O médico especialista no diagnóstico, acompanhamento e tratamento da cirrose em todos os seus estágios é o hepatologista.

Dra Lívia é médica hepatologista que atua nas cidades do Rio de Janeiro e Niterói. Atualmente atende em seu consultório particular na cidade de Niterói. Além disso, faz parte de corpo clínico do serviço de gastrohepatologia do Hospital Federal de Bonsucesso e é hepatologista dos Hospitais Quinta D’Or e Niterói D’Or.

ESPECIALISTA EM CIRROSE

Dra Lívia é médica hepatologista com mestrado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Em sua pesquisa se dedicou a estudar mais sobre o tratamento da hepatite C.

Principais causas de cirrose

A cirrose é consequencia de alguma doença hepática crônica. Cuidar da saúde do fígado pode evitar a progressão para esse estágio. No entanto, mesmo já na forma de cirrose descobrir a causa e tentar trata-la é importante para evitar o avanço da doença para formas graves onde há o prejuízo importans as funções do órgão.

As causas mais comuns de cirrose são:

  • Álcool: O álcool é tóxico ao fígado e seu consumo rotineiro em grande quantidade (Homens: 40-80 gramas de álcool por dia; Mulheres: 20-40 gramas de álcool por dia) pode levar a cirrose. Algumas pessoas possuem dependência química do álcool e precisam de ajuda médica para cessar o etilismo.
  • Esteatose (gordura no fígado)a doença metabólica no fígado, associada a obesidade/sobrepeso, diabetes descontrolado. Bem explicada no artigo sobre gordura no fígado.
  • Hepaties B ou C: são hepatites causadas pelo vírus da hepatite B ou da hepatite C que possuem tratamento antivital específico.

Outras condições mais raras que podem levar à cirrose são:

  • Hemocromatose (depósito excessivo de ferro no fígado)
  • Doença de Wilson (muito cobre é armazenado no fígado)
  • Hepatite autoimune (desregulação do sistema imune que ataca e inflama o fígado)
  • Colangite biliar primária / colangite esclerosante primária (desregulação do sistema imune que ataca as vias biliares)
  • Medicamentos potenciais formadores de fibrose

Sintomas da Cirrose

No início, a cirrose pode ser totalmente assintomática. Mas com o passar do tempo e a piora dos danos nas células saudáveis, os sintomas secundários as complicações começam a aparecer, como:

  • Cansaço e fraqueza
  • Falta de apetite e perda de peso
  • Vasos sanguíneos semelhantes a teias de aranha na pele
  • Vermelhidão nas palmas das mãos

Algumas alterações hormonais podem ocorrer, causando:

  • Em mulheres: alteração do ciclo menstrual
  • Em homens: desenvolvimento de seios e impotência.

Alguns outros sintomas que podem ocorrer, em casos de doença mais avançada são:

  • Vômitos de sangue
  • Retenção de líquidos (inchaço nas pernas, distensão abdominal)
  • Câimbras graves
  • Pele e olhos amarelados (icterícia)
  • Urina acastanhada
  • Baço aumentado
  • Alteração do sono e memória, confusão do pensamento (encefalopatia hepática)

Diagnóstico e estágios da cirrose

Como já dito antes, a cirrose no início pode não causar nenhum sintoma. A suspeita pode ocorrer pela presença de alterações no exame de sangue ou imagem do abdomem de rotina.

Além de um história clínica minuciosa, se o médico suspeitar de cirrose ele solicitará alguns testes laboratoriais e imagem.

Laboratório

Serão realizados testes para verificar como seu fígado está funcionando e a possível causa da doença, como:

  • Enzimas hepáticas e canaliculares: TGO/AST; TGP/ALT; fosfatase alcalina; gamaGT
  • Bilirrubinas totais e frações
  • Albumina
  • TAP/INR (coagulação)
  • Hemograma completo (plaqueta)
  • Sorologias para hepatites virais
  • Anticorpos para doenças autoimunes
  • Cinética de ferro

Imagem

Para verificar se há alterações na forma normal do fígado. No cao de cirrose, o fígado tem o contorno irregular, o parênquima é heterogêneo por causa das cicatrizes e em estágios mais avançados está reduzido de tamanho. Além disso, também nas fases mais avançadas, observa-se aumento da veia porta e do baço. Os principais exames utilizados são:

  • Ultrassonografia de abdome
  • Tomografia computadorizada de abdome
  • Ressonancia magnética de abdome

Esses exames ainda podem incluir a elastografia hepática, teste que mede a rigidez do fígado e ajuda no diagnóstico de cirrose nos casos iniciais em que ainda não se vê grandes alterações anatômicas, mas já é um fígado bastante cicatrizado e por isso mais rígido.

Biópsia: é um exame invasivo, em que através de uma agulha sob anestesia local, remove-se uma amostra de tecido do fígado para análise microscópica. O diagnóstico de cirrose não depende dessa análise, mas ela tem o grande benefício de ajudar a elucidar a causa caso não seja possível com os testes não invasivos.

Estágios da Cirrose

Dependendo de como o fígado está funcionando, a cirrose pode se classificada como compensada ou descompensada. Essa classificação define o tipo de acompanhamento será estabelecido.

Cirrose compensada

No estágio de cirrose compensada, não haverá sintomas. Isso porque nesse estágio ainda há células saudáveis suficientes para compensar as células danificadas e o tecido cicatricial causado pela cirrose, mantendo a função adequada do fígado. Essa fase pode durar por muitos anos. Nesse momento é muito importante tentar descobrir a causa e estabelecer tratamento se houver na tentativa de frear a evolução da doença.

Cirrose descompensada

A cirrose descompensada é o estágio que surge após a cirrose compensada. Neste ponto, o tecido cicatricial do fígado é exuberantes e as células saudáveis restantes já são insuficientes para manter o fígado funcionando normalmente. É nessa fase que surgem as complicações da doença, como:

  • Icterícia: sinal de acúmulo de bilirrubina no sangue, por falha do funcionamento do fígado.
  • Ascite: acúmulo de líquido na barriga, que acontece por um aumento de pressão da circulação abdominal secundaria a rigidez do fígado cirrótico.
  • Sangramento de varizes esofageanas: o aumento de pressão da circulação abdominal pela rigidez do fígado faz com que o sangue procure caminhos alternativos, inchando os vasos do esôfago. Esses vasos dilatados podem sangrar e isso é grave. Vômitos com sangue ou fezes enegrecidas e fétidas podem significar sangramento das varizes e precisa de tratamento de emergência.
  • Encefalopatia hepática: o fígado funcionando mal não filtra as toxinas do organismo adequadamente. Essas toxinas alcançam o cérebro e podem causar prejuízo ao sono, memória e pensamento.
  • Câncer de fígado: o tecido cicatricial aumenta o risco das células apresentarem um erro na multiplicação originando tumor.
  • Síndrome hepatorrenal e hepatopulmonar: quando outros órgãos como rim e pulmão tem seu funcionamento prejudicado pela alteração da circulação causada pela cirrose.

Tratamento: cuidados domiciliares, medicamentos e cirurgia

O tratamento da cirrose depende da gravidade da doença. O objetivo é proteger o tecido saudável que resta, evitando a progressão da doença.

O primeiro passo é tratar a causa da cirrose. Como por exemplo:

  • Cessar etilismo. Com apoio médico se necessário.
  • Mudança do estilo de vida: dieta e atividade física.
  • Tratamento medicamentoso da hepatite B ou C.
  • Terapia imunossupressora para as doenças autoimunes

O acompanhamento regular com especialista é altamente recomendado. Além dos tratementos específicos para a causa, existem outras medidas importantes para manter a saúde, como:

  • Cumprir todas as consultas médicas, para identificar e evitar precocemente as complicações.
  • Comer proteínas suficientes, adequando a dieta para demanda do paciente com cirrose.
  • Tomar vacinas da COVID 19, gripe, pneumonia, hepatite A e B se indicado. Assim evita-se complicações infecciosas.
  • Boa higiene, principalmente com a lavagem frequente das mãos.
  • Não se automedicar. Muitas medicações podem agravar o problema do fígado e não deve ser usadas sem orientação médica.

Se o paciente já apresentar quadro de cirrose descompensada com complicações, algumas outras condutas específicas são instituídas para controle das mesmas, como:

  • Dieta com baixo teor de sódio e diuréticos: para tentar controle de inchaço nas pernas e acumulo de líquido na barriga. Se o acumulo de líquido for grave, pode ser necessário associar a drenagem.
  • Medicamentos para pressão arterial: um tipo específico de remédio para pressão, reduz o tamanho da varizes de esôfago e protege que elas sangrem.
  • Antibióticos e vacinas. Eles podem tratar e prevenir outras infecções.
  • Medicamentos para diminuir o acúmulo de toxinas: para controle da confusão mental

Pelo risco aumentado de câncer de fígado, é recomendada a realização de ultrassonografia de abdome a cada 6 meses para rastreio de nódulo.

Se a sua cirrose for grave e a função do fígado que ainda existe estiver colocando a vida do paciente em risco, pode ser necessário um transplante de fígado. Para decidir essa indicação, são calculadas duas notas baseadas no quadro clínico e nos exames de sangue, CHILD e MELD.

Prevenção da cirrose

  • Um estilo de vida saudável é uma parte fundamental da prevenção da cirrose.
  • Evite excesso de álcool
  • Proteja-se contra as hepatites virais crônicas: vacina hepatite B, evite relações sexuais desprotegidas, não compartilhe agulhas sujas de sangue, use seu próprio alicate para fazer as unhas, se for fazer qualquer procedimento com agulha certifique-se que são descartáveis.
  • Siga uma dieta saudável, objetivando controle de peso e de outros problemas metabólicos.

Fonte: Management of cirrhosis EASL Guideline

 

 

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